Partilhamos a última experiência de um jovem que participou no Jubileu. Desta vez, é Pablo, um antigo aluno de Madrid, que nos fala sobre o que viveu durante esses dias.
Há alguns dias, regressei da experiência que mais me marcou até agora. Embora ainda esteja emocionalmente abalado, senti a necessidade de escrever sobre o que vivi, de colocar em palavras aquilo que continua a ressoar com força dentro de mim.
Cheguei ao Jubileu com medo. Medo de não me encaixar, como aconteceu na JMJ. Medo de que todas as expectativas que depositei nesta experiência fossem por água abaixo. Medo de que a esperança depositada em Deus não conseguisse vencer o medo que a razão me impunha.
As dinâmicas iniciais na escola não ajudaram muito. Além de acabar com o ombro destruído numa delas, sentia que o meu coração precisava de algo mais profundo, algo que não fosse forçado, que não nascesse de uma atividade programada, mas do encontro real. Mas para isso ainda era preciso esperar. Essa resposta que tanto procurava só chegaria na volta de autocarro, dias depois.
Uma vez em Roma, tudo começou a mudar. Pude fazer algo que me apaixona: ensinar aos que me acompanhavam sobre a história que cada recanto dessa cidade eterna guarda. Senti-me ouvido, valorizado, plenamente presente. Fizemos uma peregrinação ao Vaticano, onde simbolicamente pude carregar as minhas cruzes e colocá-las aos pés do Senhor. Também visitei o túmulo de São João Paulo II, o meu referente na fé, que com o seu icónico «Não tenham medo!» me lembrou que devia continuar a confiar, que a resposta chegaria, mesmo que ainda não soubesse quando.
A sexta-feira foi um momento crucial. De manhã, a reconciliação levou-nos a reconhecer as nossas faltas perante o Senhor. À tarde, vivemos um dos grandes marcos da experiência: o encontro dos espanhóis na Praça de São Pedro. Acompanhado por Rosa, apresentei ao Senhor não só as minhas próprias cruzes, mas também aquelas que os meus companheiros carregavam com um sorriso no rosto, sem mostrá-las, sem palavras, mas tão reais quanto as minhas.
No sábado, após uma longa caminhada até Tor Vergata, assistimos à vigília com o Papa. Lá, o Senhor nos deu o privilégio de ver o Santo Padre de perto e sentir como o seu olhar atravessava os nossos corações. Durante a vigília, o Papa respondeu a três perguntas que marcaram profundamente o meu interior.
A primeira foi sobre a amizade. Ele citou Santo Agostinho: «Ama verdadeiramente o amigo quem ama Deus no amigo», e acrescentou que quando as nossas amizades refletem essa ligação com Jesus, tornam-se sinceras, generosas e verdadeiras. Ele também disse que a amizade pode realmente mudar o mundo, que é o caminho para a paz. Naquele momento, chegou a primeira grande resposta que eu procurava: compreendi a importância das amizades como caminho para o Céu. Olhei à minha volta e vi pessoas maravilhosas com quem partilhar o maior dom que Deus me deu, a minha fé.
A segunda pergunta foi sobre o valor de decidir. O Papa citou São João Paulo II: «É Jesus que vocês procuram quando sonham com a felicidade; é Ele quem espera por vós quando nada do que encontrais vos satisfaz; é Ele a beleza que tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com essa sede de radicalidade que não vos permite deixar-vos levar pelo conformismo; é Ele quem vos empurra a abandonar as máscaras que falsificam a vida; é Ele quem lê no vosso coração as decisões mais autênticas que outros gostariam de sufocar». Estas palavras tocaram algo muito profundo em mim. Fizeram-me compreender que devia confiar em Deus, deixar de resistir e dar espaço à esperança, mesmo que não visse claramente o caminho.
A terceira e última pergunta foi sobre o chamado ao bem. Para respondê-la, o Papa parafraseou Bento XVI, lembrando-nos que aqueles que acreditam nunca estão sozinhos e que Cristo está na comunhão daqueles que O buscam sinceramente. Após estas palavras, chegou um dos momentos mais intensos: a adoração. Diante do Santíssimo, desmaiei. Decidi largar tudo o que vinha carregando há meses e colocá-lo nas mãos de Deus. Fiz isso com medo, mas também com uma nova confiança, nascida de tudo o que vivi. Só Ele pode me dar a paz e a felicidade que tanto desejo.
Na manhã seguinte, com apenas algumas horas de sono, voltámos a encontrar-nos com o Papa em Tor Vergata para celebrar a Eucaristia. E Ele voltou a dar-nos a oportunidade de O ver passar a poucos metros de nós. Na sua homilia, citou palavras que ainda ressoam dentro de mim, desta vez do Papa Francisco na JMJ de Lisboa: «Cada um é chamado a confrontar-se com grandes questões que não têm uma resposta simplista ou imediata, mas que convidam a empreender uma viagem, a superar-se a si mesmo, a ir mais além, a uma descolagem sem a qual não há voo. Não nos alarmemos, então, se nos sentimos interiormente sedentos, inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro. Não estamos doentes, estamos vivos!» E ali, no meio de uma esplanada, rodeado de jovens que mal conhecia há uma semana, Deus deu-me o sinal que há tanto tempo esperava.
Mas talvez o mais especial desta experiência não tenha sido um lugar, nem um momento específico, mas sim o facto de me sentir acompanhado, ouvido, querido. Senti-me parte de algo maior do que eu. Aprendi que quando nos entregamos com sinceridade, Deus age mesmo nas coisas mais cotidianas, numa bênção improvisada antes de comer, num gesto de ajuda ou num olhar cúmplice, Ele torna-se presente.
Após a Eucaristia, iniciámos a viagem de regresso a Madrid sem imaginar que a noite ainda nos reservava uma última joia. Enquanto muitos dormiam, um pequeno grupo partilhou as nossas certezas, as nossas dúvidas, as nossas feridas. Falámos dos pilares da nossa vida, abrimo-nos com humildade e testemunhámos como a vulnerabilidade, quando colocada nas mãos de Cristo, se transforma em força.
Já em Madrid, uma surpresa nos esperava: não havia água para tomarmos banho. O que poderia ter sido motivo de reclamação, transformou-se num exemplo de virtude. Cada um deu o que tinha para que todos pudéssemos tomar banho. A alegria não desapareceu em nenhum momento. Pelo contrário, tornou-se ainda mais evidente. Após o melhor banho da minha vida, um tempo na casa do Álvaro e reflexões até às 6h30 da manhã, concluiu-se a primeira fase desta experiência. Porque sim, isto ainda não acabou. Agora começa a parte mais importante: ser testemunha. Mostrar Deus no quotidiano, no nosso ambiente, num dia difícil na universidade, num exame, numa conversa informal, na rotina. Para isso fomos chamados. Como disse o Papa, «quando um jovem arde pelo amor de Cristo, o mundo inteiro nota».
Hoje, com um pouco mais de distância e com tudo o que vivi ainda a pulsar dentro de mim, volto ao presente sabendo que encontrei a felicidade em me dedicar aos outros. E coloco cada um de vocês nas mãos de Deus, para que nada nem ninguém jamais vos tire aquilo de tão bonito que carregam dentro de si: a fé de Alicia e a sua forma de transmitir Deus em tudo o que faz, a dedicação de Carlos aos outros, a vitalidade e o sorriso de Esti, o amor e o acompanhamento de Cata, a espontaneidade de Álvaro, os pilares e a forma tão bonita de agradecer de Ángela, a inteligência de Bruno, o sorriso de María e Valeria, a forma como Eva transmite o seu carinho, a alegria com que Carla enche tudo, a facilidade de Loreto para se integrar, a dedicação de Laura, o cuidado silencioso de Juan, a confiança de Martina, o esforço de Gema, Rosana, Isabel, Mercedes, Carmen e Raquel, que tornaram esta experiência inesquecível.
Cheguei a esta experiência sem entender nada do que estava a acontecer e, embora volte sem ter todas as respostas, entreguei-me a Deus, Aquele que permite caminhar sobre as águas. E com Ele, tudo é possível. Conheci pessoas que, do fundo do coração, espero que me acompanhem na viagem da vida, jovens que são luz no meio do tempo sombrio em que vivemos. Obrigado, amigos!!
Pablo, antigo aluno de Madrid