Irmã Emília Martin Endrinal. 21 de setembro de 2018 (Ávila, Residência)

A nossa irmã Emília Martin contava que tinham matado o seu pai na guerra, e que a sua mãe, longe de lhes dizer outra coisa, os ensinou a perdoar.

No mesmo dia da sua morte, as suas sobrinhas contaram que Emília e suas irmãs tiveram uma infância muito dura, mas que se ajudaram a crescer juntas. Assim começou a forjar-se o coração bom da nossa irmã, que nasceu em Porto de Béjar (Salamanca) no ano 1933.

A sua família foi um dos muitos presentes que Emília recebeu e cuidou até ao final dos seus dias, e dela, sem dúvida, aprendeu que a vida é grande no pequeno e que não há outra maneira de amar, se não ajudando os que estão perto, entregando com generosidade o que se é e o que se tem.

Todas as que vivemos com Emília não necessitamos de recorrer a nenhum papel para conhecer quais foram os lugares onde foi destinada, porque guardava no seu coração cada um dos sítios, e as pessoas que ali conheceu. Emília recordava, como se não tivesse passado o tempo, que entrou na Companhia aos 20 anos, e que a sua família foi a vê-la apesar da longa viagem. Em Las Palmas, o seu primeiro destino, começaram os relatos de uma vida dedicada no que lhe pediram, desde ajudar em casa, até ir a um hospital com outras irmãs para aprender a dar injeções às internas. Quanto riso e bons momentos se adivinhavam ainda nas recordações daquelas jovens teresianas que viveram nas Canárias!

Depois de vinte anos na ilha, foi destinada a S. João de Aznalfarache (Sevilha), onde viveu catorze anos; naqueles anos sofreu uma grave queda que lhe deixou sequelas; mas, Emília, mesmo sofrendo do coração, e depois da sua recuperação, nunca viveu com consciência de doente ou de ter que cuidar-se. O seu cuidado era cuidar os outros; daí lhe brotava a saúde e a vitalidade que irradiava.

Depois de passar um ano em Ávila, voltou a Gran Canaria, esta vez a Telde; a ilha foi durante muitos anos sua casa e na convivência com a gente simples e com as irmãs, foi aprendendo a ser fiel a Deus e à Companhia ainda que as formas, os horários, as tradições foram mudando. Foi mulher aberta e desejosa de partilhar, de dialogar e orar com as irmãs.

No ano de 2001 foi destinada a Madrid, ao noviciado interprovincial para formar parte da comunidade formativa. Guardava no coração de todas as irmãs com quem viveu um pormenor, uma anedota. E é que para Emília as pessoas não passávamos desapercebidas, não há outra explicação que ajude a compreender tudo o que era capaz de recordar.

No ano de 2005 foi destinada ao bairro de Batán em Madrid, onde viveu quase até ao fim da sua vida. Emília integrou-se no bairro, na Paróquia dos franciscanos, no ir e vir das pessoas. Foi a muitas casas a visitar doentes e a levar a comunhão, acompanhou as pessoas que necessitavam ajuda, e foi despedir a quem, depois de ser visitados por ela, faleciam. Dizia com convicção que “o importante era ser vizinha”, porque nesse ser vizinha ia a preocupação, o carinho, a proximidade; toda uma forma de entender e entregar a vida, ao modo de Jesus.

Depois de uma doença, e vendo que era bom mudar de lugar, foi destinada à residência de Ávila. Emília disse adeus ao seu querido bairro, um adeus agradecido por tudo o que nele tinha vivido. “Se agora querem que vá a Ávila, será que Deus o quer, porque as irmãs sempre buscam o melhor”. E assim, com essa simplicidade caminhou para viver os seus últimos dois meses na comunidade de Ávila Residência, onde acompanhou as irmãs doentes, onde coseu com delicadeza e entrega quanto lhe pediam; e é que o amor nela “jamais esteve ocioso”.

Quando morreu no dia 21 de setembro, em apenas 24 horas e não tivemos tempo de despedir-nos dela todos os que a tínhamos estimado. Não deu tempo, mas a despedida vai-se fazendo de uma forma contínua quando se desenrolam as lembranças e as anedotas de uma mulher que soube entregar-se com um coração humilde e simples, quando soam os nomes de tantos doentes que acompanhou, quando na paróquia a recordam como um pilar da comunidade crente, quando nas casas onde viveu se percebem os pormenores do seu cuidado e acolhimento de irmã-ama de casa.

“Pensar, sentir, amar como Cristo Jesus…”, é fácil reconhecê-lo nela. E fácil compreender que a Virgem Maria, a quem cada dia invocava, foi a sua mestra. De sua mãe aprendeu a perdoar; de Maria, a ser discípula de Jesus.

Descansa em paz irmã Emília, e deixa que muitas outras, continuemos o que tu começaste e nos ensinaste a viver. Damos graças a Deus pela sua vida em ti.

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